01/04/2010

QUINTA-FEIRA SANTA


Esta quaresma eu percebi o que é realmente viver. Para mim viver é Cristo! E tenho a certeza que, depois de O ter experimentado, não quero outra vida senão esta, em que cada dia existe para o preencher de relações de amor fraterno.

Amor fraterno. É precisamente disto que quero falar hoje. Como sabemos, estamos no dia a que costumamos chamar “Quinta-Feira Santa”, em que comemoramos a Confiança extrema do nosso Mestre, Jesus. Ele que, em vez de fugir às autoridades, enfrenta o que vier, não sem antes tratar de se fazer eterno.

Se calhar é um pouco estranho isto que digo. Mas de facto Jesus fez-se eterno! Pela Última Ceia, Jesus fez-se presente para sempre neste Mundo!

Gostava de falar um pouco acerca disto. É que, às vezes, reparo que o sentido do “Fazei isto em memória de mim” se deturpou um pouco ao longo dos séculos.

Já ouvimos vezes sem conta: “O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: ‘Tomai e comei; isto é o meu corpo, que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim’. Igualmente também, depois de ter ceado, tomou o cálice e disse: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei isto em memória de mim todas as vezes que o beberdes” (1Cor 11,23´29).

Quando o escrevi, sabia muito bem o que estava a dizer. Mas já reparei que, quando as pessoas o ouvem, tendem a pensar que Jesus estava a dizer: “Rezai missas!”.

Não! Não é isso! Não é isso de todo! A Última Ceia significa muito mais do que isso!

Mas o que é o “isto” de que temos de fazer memória?

Eu explico: lembram-se de ouvir falar de um Jesus que se sentava à mesa com pecadores públicos e cobradores de impostos (Lc 15, 2)?

Pois bem. Realmente, as suas refeições com essa gente encurvada, os anawim, são um dos sinais mais fortes da proximidade do Reino anunciado por Jesus. Um Reino que cura, que gera perdão e amor fraterno entre as pessoas. Aquelas refeições são sinal do Reino de Deus a acontecer na história, não como uma realidade abstracta, que há-de vir, mas como algo concreto a acontecer na vida daquela gente!

Então, não nos podemos esquecer que a Última Ceia de Jesus é isso mesmo, a Última, não a única. Houve muitas outras antes! E por isso ela é como que uma síntese de todas as outras, que não pode terminar com a morte de Jesus!

Por isso “Fazei isto em memória de mim”. Continua o que eu fiz! Não deixem que isto acabe! Continua o Reino que eu fiz acontecer!

É isto que celebramos hoje. O Reino a acontecer, o Reino que nunca acaba. Hoje celebramos aquele dia em que Jesus depositou toda a sua Confiança e Esperança nos seus discípulos, homens que eram tudo menos perfeitos. E Ele sabia disso. E por isso mesmo, depositou o Reino, o seu tesouro, nas mãos deles. Agora era com eles. Agora é connosco. E é certo que a paixão pelo Reino não morreu. É certo que estamos aqui para continuá-la. É certo que Jesus tinha razão ao deixar a tarefa na mão de apaixonados.


Que estás ainda a fazer aí?

Vamos celebrar! Vamos fazer memória! Vamos fazer com que “isto” aconteça, e gritá-lo àqueles que ainda não sabem a Boa Notícia que trazemos no peito…

Vamos! Agora!


Hoje não é dia de palavras. É dia de silêncio, porque nenhuma palavra é capaz de descrever um Amor assim. Total, pleno. Maior do que nós, muito maior, ainda que nos ponhamos sempre nos píncaros.

É dia de sermos pequenos, uma vez na vida. É dia de nos pormos aos pés do nosso Mestre, de olhá-lo na cruz de madeira fria e de agradecer. Não que ele precise dos nossos jejuns, porque ama-nos acima do pecado todo que exista…

Mas precisamos de olhar para Ele e de dizer: “Obrigado, Mestre, pela entrega até às últimas consequências. Até à Morte.”.

Obrigado pelo Homem que foste, pela Pessoa que és. Guarda-nos em Ti.




Sem comentários:

Enviar um comentário

"Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão."
Madre Teresa de Calcutá